Golpistas invadem perfis no Instagram, vendem produtos, pedem doações e oferecem empréstimos

Crimes cometidos à distância, especialmente em redes sociais, dificultam o trabalho da polícia para chegar até o autor

Prints feitos por Salvana Pegorine sobre o golpe no Instagram

Um novo golpe, envolvendo a rede social Instagram, tem se tornado comum na região. Estelionatários invadem o perfil do usuário e usam a rede social para vender produtos a baixo custo, pedir doações através de pix e até oferecem empréstimos com juros baixos e sem envolver instituição financeira.

A designer Salvana Pegorine, moradora da cidade da Feliz, teve seu perfil hackeado no mês de dezembro. Ela conta que, à procura de chopp para o chá de fraldas de sua bebê, buscou opções no Instagram, encontrando a Traum Voucher. Começou a seguir o perfil, pois achou atrativo o fato de poder participar de sorteios. 

O perfil entrou em contato com Salvana, solicitando o seu número de telefone, para o qual enviaram um código de ativação por SMS para que pudesse participar dos sorteios. Então enviaram um link, que foi orientada a copiar e colar. Em seguida, pediram que aguardasse mais instruções. 

Isso ocorreu na quinta-feira à noite, dia 16 de dezembro de 2021, e na sexta pela manhã recebeu um e-mail com a informação de que um número de Goiás havia acessado a sua conta no Instagram, no estado de São Paulo. A partir de então, não conseguiu mais acessar o seu perfil no Instagram, mesmo tentando recuperá-lo com as instruções da própria rede social.

Como Salvana não costumava conversar com os amigos através do Instagram, os golpistas começaram a fazer contato com as pessoas das quais reagiu aos stories. Eles puxavam papo com as pessoas usando “oi gata” ou “oi amore”, porém Salvana conta que não tinha esse hábito. Então, uma colega de trabalho desconfiou e entrou em contato pelo WhatsApp pedindo se era uma brincadeira dela ou se haviam hackeado seu Instagram. Foi quando Salvana se deu conta de que havia sido vítima de um golpe.

Através do perfil de Salvana, os golpistas começaram a vender itens, como televisões e máquinas de lavar roupa a preços muito atrativos. “Para fazer as pessoas acreditarem que era eu, eles pediam para aguardar, pois estaria editando uma foto, no caso, eu trabalho com isso. Uma amiga minha também marcou meu perfil numa foto e os golpistas repostaram para as pessoas acharem que era eu mesma”, conta. 

Ciente de ter caído num golpe, Salvana começou a anunciar que havia sido hackeada e procurou a Polícia Civil da Feliz para ter ajuda, pois não sabia como deveria lidar com a situação. 

Sem sucesso na venda dos produtos, os golpistas começaram a pedir dinheiro para ajudar uma suposta tia de Salvana que estaria passando por necessidades. “Meus amigos sabem que eu não tenho nenhuma tia que passa por dificuldades financeiras, pois elas são empresárias. Por isso, começaram a me chamar pelo WhatsApp e avisar o que estava acontecendo”, conta Salvana.

Ainda sem sucesso com a nova estratégia, os estelionatários começaram a oferecer empréstimo pessoal. “É muito fácil de cair, porque é um sonho de empréstimo. Eles mandam um WhatsApp explicando certinho como funciona”, afirma.

A partir do momento em que algumas pessoas começaram a cair na conversa do golpista e a perder dinheiro, Salvana começou a sofrer ameaças online, deixando-a preocupada. “As pessoas me conhecem. Imagina se alguém vem me ameaçar pessoalmente? Eu estou grávida”, afirma. Salvana conta que procurou a polícia novamente, onde foi orientada a denunciar o perfil e a manter os amigos informados sobre o que estava acontecendo. “Mesmo denunciando o perfil, ele não foi bloqueado pela rede social, pois os criminosos o mantiveram original e não apagaram nada. Apenas, estão fazendo posts nos stories. Assim, o Instagram não entende que ele foi hackeado”, afirma. 

Salvana conta que junto à bio do Instagram consta o endereço do seu site, onde muitas pessoas acabaram clicando para conseguir falar com o dono do perfil. Assim, as mensagens e até documentações enviadas para o golpista acabaram chegando até Salvana, que pode alertar algumas pessoas a não caírem no golpe.

Salvana acredita que os estelionatários estão conseguindo ganhar muito dinheiro através do seu perfil, pois soube de várias pessoas que caíram no golpe. “O namorado de uma menina que morava em Nova Petrópolis entrou em contato comigo, me xingando, pois havia perdido R$ 1.400,00. Mas não era eu, era alguém se passando por mim. Então eu o orientei, conforme a polícia me explicou, para que fizesse um boletim de ocorrência”, conta. 

Salvana afirma que se sente mal, pois por um erro seu, muitas pessoas caíram em um golpe. “Me sinto na obrigação de expor ao máximo a situação para evitar mais problemas. 

Ela também mudou todas as suas senhas, tanto bancárias quanto de redes sociais, para evitar o acesso dos golpistas a outras contas. 

SEGUNDO A POLÍCIA CIVIL, HÁ REGISTROS DE GOLPES SEMELHANTES EM NOVA PETRÓPOLIS

Conforme o delegado Fabio Peres, da polícia civil de Nova Petrópolis e Picada Café, são ondas de golpes, a exemplo do falso WhatsApp. Ele afirma que foram cerca de 10 a 15 registros da delegacia de Nova Petrópolis referentes a golpes pelo Instagram que resultaram em prejuízo à população. 

O delegado relata que há variações do crime, desde a venda de eletrônicos, onde as pessoas são levadas a fazer um Pix, achando que está comprando de um amigo. Há também os pedidos de doações e a oferta de empréstimos. Além disso, Peres também destaca que há perfis falsos de lojas, que tem milhares de seguidores fake, e vendem produtos no Instagram. “No perfil tem fotos da suposta loja, de gente comprando, e passa uma confiabilidade para o possível cliente. Aí quando ele compra, descobre que a loja não existe”, conta. 

Peres afirma que, após a denúncia de perfil falso, a rede social demora muito para tirar a conta do ar, sendo um ambiente propício para muitas pessoas caírem no golpe. 

O crime descrito é enquadrado como estelionato e precisa que haja o registro da vítima. Para a apuração do crime, o polícia civil necessita de uma série de ordens judiciais para romper as barreiras da informática a fim de chegar aos autores. 

Outro agravante é que se trata de um crime cometido à distância, onde os autores encontram-se em diversos estados do país. “Eles se preparam para cometer esses crimes, com dados falsos, e na hora da apuração do crime até as empresas que administram as redes sociais têm dificuldade de passar as informações necessárias. Por isso, mesmo com o número de telefone e CPF do beneficiário, é difícil chegar aos autores dos crimes”, relata Peres. 

A orientação do delegado à população para evitar cair em golpes é estar atento e não realizar transações como pix ou transferências sem ter uma conversa formal por telefone, buscar mais dados da empresa, como CNPJ, e não se deixar iludir por preços muito atraentes que serão praticados somente naquela determinada ocasião.

Comentários